Lip-Gloss
Hoje acordei a olhar para a janela. Já de dia, a claridade entrava e batia-me na cara. Há muito que o rádio se tinha desligado, provavelmente nem sequer me lembrei de o ligar. Não, não sou capaz de dormir sem música, é possível que estivesse ligado. Virei-me para o outro lado, se calhar tentei também virar para o b-side da minha vida, alguma música interessante num disco de vinil de 45 r p m. Estava a fugir com os olhos à claridade.
Tive que sair da cama para poder devolver aos meus ouvidos o que estava no leitor de mp3. Hum, foi uma boa escolha para dormir. Comecei com atenção e depois perdi-me. Acho que este álbum me faz sair de mim, evoca demasiados ambientes, mexe demasiado com os meus sentidos. Parece que não sou capaz de suportar tantos estímulos juntos; e ao mesmo exercem em mim uma atracção quase mórbida, mortal. Uma uma adicção auditiva.
Hoje acordei e entreguei-me aos meus sentidos. Deixei-me ir embora puxado por um fio invisível, na claridade da manhã que inundava o meu quarto. Na sinestesia matinal, um corpo inerte estava na cama, um espírito irrequieto soprava pleno de sentidos.
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