Me quedo aqui, solo...
Lisboa esgota-se nas minhas costas. Os topos dos prédios convergem na linha do horizonte do pôr do sol. O autocarro quente, vidros embaciados de respirações muitas. Burburinho. Há mais um estímulo, esse, sempre presente mesmo quando é só dentro de mim; acompanha-me um compêndio de músicas escolhidas pelo Pedro Almodóvar, "Viva La Tristeza!". Bando sonora perfeita para o meu estado de espírito, para os meus sentidos, de uma profundidade e intensidade em tons de vermelho e azul: escuros. Assim:
Tenho-me apaixonado por Lisboa, pelas ruas e pelos cheiros. Lembrei-me de olhar para o rio, de namorar o Bairro Alto.
(A dor, a dor, esta nascente musical que origina a dor. Sussurro de dor.)
Já não vejo Lisboa, ficou para trás. Lisboa tem saudades. A luz está a desaparecer, o cinzento do lápis está a desaparecer, a dor está a desaparecer. Apenas o espasmo momentâneo. A dor da beleza, a dor dos sentidos, essa que acompanha tudo o que é belo.
As luzes levam-me, os vermelhos, o pouco azul que resta, o vermelho, o vermelho. O semi-sono.
Deito-me entregue à minha amante incansável.
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