Pós-Lisboa
Há muitos anos que deixei Lisboa. Deixei-a com vários amargos de boca, magoado.
Abandonei-a, como se abandona um álbum que ouvimos demasiadas vezes e nos cansamos, fica por ali, ao deus-dará.
Até que um dia acordamos e reconciliámo-nos com a música, com a cidade. Passados quatro anos reconciliei-me com Lisboa, com o rio, com o cheiro.
Comecei por descobrir coisas que na inocência não se descobrem; os recantos, os detalhes, os pormenores. Inspirar a cidade no jardim do Adamastor, ir ao bar dos artistas e apaixonar-me pela Audrey Hepburn. O Marlon Brando, prevertido, numa fotografia do "Apocalipse Now". Correr os miradouros com o sol a espreitar a margem sul, atravessar a ponte semi-sonolento a ouvir Lydia Lunch.
E depois, madrugar na Caparica, as roupas da noite, casacos, cheios de areia, tomar banho no mar, saborear o sal nos lábios. Fazer amor com os olhos, o peito rijo da água fria.
A minha Lisboa fantasiosa, a minha Lisboa prometida, a minha reconciliação comigo, o meu assumir de crescer e não ter medo. O meu começar pleno, o piano a baixar, a música a acabar com um fade-out lindo: eu no inverso, cada vez maior.
2 Comments:
Eu nunca a deixei. Contudo não passo uma semana sem que esta cidade escura me encha a alma com uma nova surpresa. Se precisares de companhia diz, ou procura nos miradouros, também devo andar por lá.
Ainda não li todo o teu passado depois de te linkar vou ler o teu presente devagarinho, ....mas foi bom encontrar-te aqui novamente a namorar lisboa....não resisti....o passado passou mas não pude deixar de comentar......
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