Sexta-Feira, 07 a.m.
Há muito, muito tempo que me não aventurava nesses antros que se dão pelo nome de discoteca; pior, duas noites seguidas.
Por consequência da queda do tecto do sítio onde trabalho - nem digo onde, nem em quê - esta semana estive de férias. Aproveitei para fazer algo que não fazia há algum tempo; sair sem pensar que me tenho que levantar às oito e onze, sem pensar que tenho que ter imensas coisas preparadas, soluções instantâneas, entre muitas coisas outras que tenho que habitualmente fazer. Não me vesti a rigor, umas calças de ganga rotas, uns ténis perfeitamente normais, uma t-shirt e um abafo, para o caso da madrugada fazer das suas e levantar aquele frio que apanha os mais incautos hedonistas pelo fim-da-noite-início-da-da-manhã.
Começa sempre da mesma forma; a saltitar de bar em bar, ver pessoas, mais pessoas, comer pipocas salgadas para puxar a cerveja. Conversar, rir. De há algumas noites a esta parte, têm surgido novos conhecimentos de todos os lados, pessoas que apenas conhecemos de vista, metem conversa e ficam e pagam copos e vêem conosco e pedem para que os cumprimentemos na manhã seguinte, quando o álcool estiver lentamente a abandonar as veias.
Entrei na discoteca por volta das três e meia; saí por volta das cinco e quarenta. Sei que há um hiato espacial do qual não me recordo muito bem. A música gritava, fez com que os meus ouvidos fizessem bzzz quando saí duas horas e dez mais tarde. As luzes psicadélicas, a música, as pessoas que dançavam apenas nos momentos em que havia luz, o freneticismo dos engates.
Já o sol clareava a manhã e corríamos para uma tasca, comer qualquer coisa. Pediram-me para enrolar dois cigarros. Disse que sim e sorriram-me, o mesmo sorriso que tinham enviado a todos os outros rapazes na discoteca; não acho isso muito lisonjeador. Marcava o meu telemóvel sete horas e treze minutos quando fechei o estore e os olhos.
Desta noite guardo mais umas ideias, entre elas a vontade de não voltar a sair assim tão depressa; não gosto da sensação de estomago cheio, nem da tosse da manhã seguinte. Tive ainda que fazer um pouco de terapia antes de dormir, um pouco de Marlango, a Leonor Watling a cantar só para mim. Não ouvi mais que a primeira canção, mas ficou-me o verso "there's a choreography in traffic jams".
a.m. = antes do movimento
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