Verão: Sangue Suor e Calor
Os meus dias estão cada vez mais vazios. Transformam-se em horas encavalitadas em minutos e estes encavalitados em segundos.
Sinto as gotas de suor que escorrem pelos flancos, umas caindo para o chão, outras absorvidas por uma toalha, a últimas conseguem descer e encontram uma camada de algodão com um padrão de sapos.
Às vezes julgo que não vou aguentar com este calor. Sinto que o meu corpo se começa a empastar, ganha uma forma disforme, uma amálgama liquefeita na qual não se distinguem ossos, massa encefálica, cabelo e mesmo unhas.
Na minha testa há uma corrida: pequenas gotas agrupam-se na raiz do cabelo, preparando-se para a corrida que as levará até ao meu queixo. Mas a prova não é fácil: há aquelas gotas que preferem ir para o nariz, sem saber que as espera um abismo: essas acabam no chão, sem ter terminado a corrida. Umas outras vão pelas sobrancelhas, mas chegando aos olhos encontram o fim da sua corrida. Por fim, as mais inteligentes e perseverantes, que começam por contornar a testa, descem pela parte lateral da minha cara, e se conseguirem passar a barba, de certeza que chegarão ao seu destino, o queixo.
E ainda há os bichinhos que gostam do meu sangue. Sei que tenho o sangue doce, já o provei. Mas não sou o único a acha-lo. A par de mim há os bichos nocturnos que gostam de dar umas trincas nos mais estranhos lugares. O pior é quando trincam sítios onde não conseguimos alcançar com as mãos para coçar e temos que nos chegar às paredes rugosas para nos esfregarmos.
Remédios: fenistil, ar condicionado e paciência.
1 Comments:
acredita que tou contigo nessa luta!!!
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