Sunday, July 17, 2005

O Pão Nosso de cada Dia e as últimas histórias de Berlim

Todos os dias o nosso pão é comido.

As desventuras berlinenses continuam, lamentavelmente quase no fim. Já a cidade tem, nesta luz dourada e crepuscular um cheiro a saudades. Passei pelo Café da Córsega e olhei os velhotes. Tão cedo não os vejo, assim como o nosso amigo Çarik:
o Çarik vendia-nos a nossa DDR de pistachos, cajus e pevides. Aquilo que nós necessitávamos quando parávamos nos parques onde víamos tantos outros Lucas e Isauros, assim como Helgas e Evas.

Mas nem tudo tem esta toada delicodoce.
Um dia em Leipzig. Cidade muito bonita e tudo mais. Foi o meu primeiro piquenique na Alemanha apesar de muitas vezes ter estado em parques. Assámos salsichas, pimentos, beringela, cogumelos. Mas o lume apagou-se; e agora? Agora espera-se que acabe de chover porque as nuvens parecem passageiras. Fomos ficando e ficando. E toca de correr para o comboio. A porta fechou-se à nossa frente; pedimos por tudo à senhora que no-la abrisse. Não, num alemão simples e eficaz, com aceno a condizer, disse-nos que não. Implorámos em inglês e em arranhos de alemão. O comboio arrancou e ainda tive tempo de dizer, em português «Vai à merda!»
Depois não há muito mais para contar. Ficámos na cidade e embebedei-me.

As nossas visitas gostaram da casa; fomos ver a escola de Belas Artes, de Design e de Multimédia, em três exposições que duraram o dia.
E ainda fomos sair à noite, nada de tropelias. Num bar, grande, calmo, para pessoas grandes ou calmas
Tantos casais iguais: homens com homens e mulheres com mulheres. Fiz questão de juntar os meus lábios aos da Susana de dois em dois minutos. Só para ter a certeza. Ainda por cima estava a fumar Camel.

Deitados, corpos cansados e bem aninhados.
«Sabes, fui pôr Nouvelle Vague para ouvirmos bem baixinho antes de dormir. Mas para não incomodar ninguém pus tão baixinho que nem oiço.»
Risos.
“Oh, pensava que não estava a tocar nada e desliguei o amplificador.”
Gargalhadas.

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