Thursday, July 14, 2005

O café da Córsega e mais histórias de Berlim

Todos os dias passo por um café. O café chama-se Oyzeri To Steki Cafe. Duas vezes por dia. Quando voltamos para casa, por volta das oito, nove horas, há sempre um grupo de senhores turcos que se junta à porta, numa espécie de esplanada a conversar sobre o tempo, sobre os véus que as mulheres usam. «Epá, o véu daquela dá cabo de mim, rasgava-o todo com os dentes». Obviamente que não passam de desejos; porque eles são velhos e já não são atraentes as e porque eles já não têm dentes. Tenho tentado reconhecê-los, dia após dia. Difícil, nem sequer o bigode consigo decorar. Mas há um que desde o primeiro dia o reconheço e que nos rosna, olhando de soslaio. O cão que guarda o café da Córsega.

Ontem fui a um parque. Estávamos os dois de conversa muito românticos, beijinho aqui, beijinho ali. Nada que não se estivesse a passar à nossa volta. Eis se não quando, à nossa frente, algum rebuliço.
Um casal de homossexuais acabava de dar início a um arrufo de namorados. Eram eles o Lucas e o Isauro. Um fez menção de se levantar e ir embora, o outro puxou-o pelo braço, uma cena digna da mais romântica telenovela mexicana. Voltou a sentar-se. Ficaram calados, a contemplar o céu, a ponderar aquilo que os unia. Sempre sem se olharem, Lucas e Isauro. Chegou um terceiro elemento, que voltou a juntar o casal desavindo.
Naturalmente não estava muito interessado, preferia os beijinhos que me estavam a dar.
Não os vi sair, mas tenho a certeza que passaram um fim de tarde fantástico, assim como o início da noite. Os três.

O que é que a culinária portuguesa e italiana têm a ver com um cozinheiro indiano e um mercado turco? Nada. Aparentemente.
Depois de voltar do parque fui para casa. Comer, que era muita a fome. Ela ficou com o pesto e eu com o gaspacho. Não vivermos sozinhos, partilhamos a casa com mais três galifões alemães. Simpáticos. Ora, um após outro, foram-se sentando e perguntando o que era aquilo que estávamos a culinar . Depois da primeira pergunta, a outra. Podemos provar? Claro que sim, quem somos nós para recusar alimento a uns pobres que só comem coisas de lata. Estava bom; por boa educação não repetiram.
Até à estocada final. Entra uma amiga de um deles com duas cervejas. Perguntou logo quem tinha culinado, conhecendo bem os cantos à casa. Provou, gostou e comeu. Até ao fim.
O Woody Allen ia ter inveja da minha vida.

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