Sunday, September 04, 2005

Gin-Tonic e malmequeres

«Hum, gin-tonic… Que bom gin…»

Dei início ao serão com uma golada de gin, dei as boas vindas ao fim do fim-de-semana com uma valente golada de gin-tonic sem gelo; por muita vontade que tivesse de uma bebida bem gelada, de um aperitivo que desse as boas vindas ao fim do fim-de-semana, não havia gelo. Então seja, algo à temperatura ambiente. Algo que, de certeza, fará uma grande barafunda gástrica e mental.

Senti-me cansado, senti que todo o peso da ausência de sono tinha caído em cima de mim; lembrei-me de como, há alguns meses atrás, conseguia aguentar noitadas bem regadas e ainda ir trabalhar, como tinha força para dormir poucas horas durante muito tempo. E vejo nas portas espelhadas uma cara que me pede sono, umas olheiras que se estendem negras. E um copo de bebida, para enganar o cansaço. Como se, subitamente, todo o cansaço acumulado caísse em cima de mim. E não só o cansaço do último ano, nem dos últimos quatro anos. Algo um pouco mais longo, que se estende à cronologia dos últimos dez anos.

Ausentei-me de mim durante tanto tempo, para descobrir que não tinha razões para ser tão ausente. Para descobrir que talvez não fosse tão socialmente inadaptado. Ou sou, ou não sou ou sou ou talvez seja como o jogo do malmequerbemmequer, aleatório. Ou se previamente contarmos o número de pétalas, sabemos por onde começar e sabemos onde vai terminar e sabemos se casamos ou não.
(Ou jogo das papoilas infantis, galo galinha ou pintainho.)

Passei o dia afundado no sofá, na inércia do não fazer nada, na ausência de pensamentos ou vontade do fazer. E abri o cucuruto da minha cabeça e despejei, à temperatura ambiente, copo e meio de gin-tonic, a frio. Porque não havia gelo.

E isto para não conseguir dizer nada, para continuar absorto em pensamentos e passar nada para a escrita. Para encontrar, impresso no ecrã do computador uma série de pensamentos aleatórios sobre o fim do fim-de-semana, ligações desconexas e esparsas.

2 Comments:

Blogger Mikado said...

A nossa velocidade pessoal por vezes abranda, faz-nos parar, constatamos que os nossos pés estão imobilizados no jogo do simplesmente talvez. Bebemos um trago de esquecimento e continuamos a sentir este permanente cansaço, que se cola à pele e encerra as pálpebras e continuamos a beber até nada pensarmos.
Gosto da tua escrita

4:13 PM  
Blogger Joana said...

As ligações que fazemos nunca são verdadeiramente desconexas, e associação livre que fazemos a partir de um momento 'à temperatura ambiente' leva-nos sempre para outras paragens...viagens de se ler. Sempre bom viajar aqui, à tua velocidade pessoal :)

12:55 AM  

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