O Algarve está podre e tresanda
Comecei as minhas férias de Verão com um passeio de quase-seis-horas ao longo do Alentejo até ao Algarve dentro de um autocarro da rede de expressos. Até estava algo feliz pela viagem, apesar de saber que passadas as primeiras duas horas já me estaria a revolver no banco e a queixar-me do espaço que não tinha para pôr as pernas. O tempo até estava ameno, a música foi bem escolhida – uma compilação de 1995 «Sharks Patrol These Waters, The Best Of Volume».
É facilmente reconhecível o momento em que se chega ao Algarve. Vêem-se muitas pessoas loiras e muitas peles acobreadas, de solário e de praia. Mas o percurso do autocarro é perverso e recomendo-o porque se aprende muita coisa.
Divide-se me duas partes o meu Algarve; a fronteira, essa divisão entre a ostentação e a podridão estão na Nacional 125. Da fronteira para Norte está tudo podre, entregue ao abandono e deus-dará.
Vi aquilo que em tempos foi um parque aquático, ou seja, um grande lago de cimento que as ervas começavam a cobrir. Descobri que era um parque aquático porque na berma da estrada se encontravam as tubagens onde as pessoas em tempo escorregavam com prazer, onde faziam pequenas feridas nas vértebras por passarem nos encaixes dos mesmo tubos.
Vi cafés, muitos cafés, colados, geminados, gémeos. E as pessoas têm um olhar tão vago, tão desencantado e triste. E não se atrevem a passar essa fronteira, porque do outro lado não têm lugar. Um pouco quase como o «Admirável Mundo Novo» em que o personagem principal vai a um “jardim zoológico” ver como os humanos procriam naturalmente, com sexo e fluídos. Assim vivem os habitantes do lado Norte algarvio.
Para os do lado Sul, o mar é o limite, têm barcos. E a pele acobreada de tardes de solário, e camarão e cabelos loiros e festas e jogadores de futebol.
Um dia faz-se a revolução, porque os olhares desencantados e esgazeados pelo álcool e drogas baratas já têm lampejos de ódio e raiva.
1 Comments:
o interior e o litoral... essas diferenças que falas no algarve não passam de uma representação do resto do país!! mas isso acaba por ser normal, é o turismo que o provoca e as pessoas preferem as praias...
[]
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