Monday, October 10, 2005

Chuva nos telhados

Está aquela luz que eu tanto gosto, a luz do céu cinzento, brilhante, que reflecte o alcatrão molhado, os telhados escurecidos pela chuva. O vermelho que ontem era tão vivo ao sol tornou-se escuro, com pequenas ervas verdes que crescem às primeiras chuvas de Outono.

Os regressos a casa não se fazem apenas de tardes silenciosas e noites excessivamente boémias. Há pessoas que vemos e que já não reconhecemos, que nos perguntam com o maior desinteresse o que é que fizemos com a nossa vida.
Suponho que seja justo que não se interessem por mim, eu também já vou perdendo o interesse; simplesmente sou honesto e não faço perguntas das quais não pretendo saber resposta alguma. Prefiro permanecer em silêncio. Talvez seja mesquinho e egoísta da minha parte, mas parece-me melhor assim.
Lembro-me de estar sentado, num restaurante, a ouvir conversas, a participar pouco. Simplesmente a estar, a tentar desfrutar as pessoas com quem me encontrava, a tentar encontrar um novo referencial no meio de tudo aquilo. Sinto-me perdido no meio de um sítio que conheço tão bem. O jantar terminou e as pessoas começaram-se a separar, cada uma para seu lado. Nem sei para onde fui, nem sei porque fui. Talvez fosse porque estava habituado a ir, porque o meu corpo se movia de forma automática.

Hoje choveu mais do que ontem. Caíram bátegas de chuva durante a noite. Dormi num quarto vazio que ecoava todos os ruídos do prédio onde me encontrava. O quarto tinha um chão de lajes, era frio. Tinha, além da cama, um armário e um cadeira. E uma persiana que não fechei porque quis adormecer a ouvir a chuva; e a mesma que me ajudou a adormecer ajudou-me a acordar, ia a manhã quase meia, quando me acordou.

No meio de tantas pessoas, nunca me tinha sentido tão só.

2 Comments:

Blogger M said...

Ás vezes parece que te esqueces do resto do mundo e a tua solidão acaba por não passar de arrogância...
Existe muita gente só, é certo, mas tu és uma delas porque escolhes ser.

3:44 PM  
Blogger Joana said...

Ela pode vir pelas frestas da janela. Tocar-te levemente na face, na nuca e fazer-te arrepiar. Ela pode sentar-se ao teu lado no metro, cruzar a perna e sorrir-te. Pode-se aninhar na tua cama durante a noite.
Mas a solidão só se torna tua quando o teu coração lhe der as boas-vindas.

11:19 AM  

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