Wednesday, September 28, 2005

Três noites sem sono

Uma a uma, as pessoas deitaram-se. Sinto bem na pele o cansaço da terceira noite de semi-vigília. O sono custa a chegar, as horas da noite arrastam-se e, chegando a manhã com o seu sol conciliador, chega também a ausência de sono, o cansaço acumulado sobre o corpo. Erguem-se os dias numa barreira de solidão e inutilidade, erguem-se vorazes, devoradores da rapidez do tempo.

Cada dia que se arrasta é apenas uma colecção de horas que faço, esperando a notícia, a novidade. Mas os dias demoram, estendem-se em contornos de ansiedade e respirações profundas. Às vezes olho ao espelho e penso que talvez esta tenha sido uma má altura para deixar de fumar: agora era uma boa altura para ter uma desculpa que me permitisse fumar desalmadamente. No entanto, não sinto vontade de fumar.
Olhei ao espelho a meio da noite, após ter conseguido dormir três horas. Eram quatro. Reconheci na minha testa rugas de expressão. E estava a dormir. Não tenho tido um sono pacífico, povoado de sonhos estranhos, visões e desejos de um futuro próximo. Receios e medos recentes ou reincidentes. As três horas que tinha dormido tinham-se resumido a um visceral combate entre o corpo e a matéria.

Quando volto a levantar a cabeça, escrevi duas páginas de um código indecifrável. São os meus sonhos elevados ao expoente do ecrã de computador, incompreensíveis até para mim. Deixam uma marca indelével na memória do acordar.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

porque é que será que tudo o que escreves sentir se adapta como uma luva em mim??...seremos assim tão maniaco.depressivos que não conseguimos ultrapassar momentos menos bons e dolorosos como os deste tempo??? bxox

11:59 AM  
Blogger Joana said...

Pegando no texto e no comentário em cima: não me parece que a identificação com os textos escritos por outra pessoa tenha alguma coisa a ver com quadros psicopatológicos. Acho sim que estas vivências fazem parte do repertório de sermos simplesmente humanos. Às vezes o que temos para gerir é demasiado e isso baralha, domina, controla até certo ponto e atravessa as nossas horas...revela-se no onírico-diurno e nocturno; no nosso imaginário portanto.
Também me identifico com muito do que escreves mas acho que isso acontece perante uma escrita de qualidade emocional, que consegue amadurecer problemáticas universalmente individuais (será que fui clara nesta última ideia?!) universalmente individuais sim. Escreves mesmo... muito.

3:21 PM  
Anonymous Anonymous said...

Keep Strong

9:36 AM  

Post a Comment

<< Home