O céu como reflexo
Os dias cinzentos que tanto gosto acabaram por ter me trair. Trouxeram-me Às mãos memórias de um passado que julgava já esquecido, trouxeram-me às mãos a razão pela qual eu gostava tanto deles.
Lembraram-me que gostava mais de ser triste do que alegre, lembraram-me que gosto de chafurdar na lama da auto-comiseração. Lembraram-me que isso se passou há oito anos.
Com tantas porcarias na cabeça durante tantos anos, às vezes pergunto-me como é que nunca me suicidei. Quer dizer, eu achava que o facto das pessoas sofrerem era algo extremamente belo, achava que o momento em que batiam no fundo e depois se conseguiam levantar tinha algo de romanticamente trágico e, naturalmente, belo.
Certo é que nunca fui corajoso ao ponto de nunca ter experimentado esse caminho. Ou então fui corajoso ao ponto de bater no fundo para depois me levantar. Ou então fui cobarde por nunca ter tomado uma decisão concreta até ao dia em que descobri que me estava levantar, com ajuda, mas que me estava a levantar. E nesse dia decidi que queria ficar de pé.
Mas estas coisas não se fazem sem uns revezes, assim até perderia o encanto de batalha ganha. Suponho que isto seja um desses revezes, num processo que está fadado para um fim glorioso e bonito, com a minha felicidade.
Tem tudo para assim ser, mas o céu cinzento traiu-me. Disseram-me mais tarde que dias assim estão cheios de energias negativas. Está bem. Seja como for, houve muitos dias cinzentos que eu gostei. Talvez porque sentia um prazer onanista no desespero do sofrimento.
Mas já não sinto, sinto-me uma massa podre quando fico parado. Mas arranquei do chão as raízes, sem vontade de voltar ao mesmo ciclo vicioso.
«I don’t know where we’re heading, but I’m glad that we’re doing it together.»
Não sei em qual foi, mas sei que vi isto num filme.
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