Sábado Sabático em Silêncio
A casa esteve fechada o dia inteiro. A luz foi filtrada pelas persianas, pelas cortinas, pelos vidros das janelas. Respirei o mesmo ar vezes sem conta, até que os pulmões de inspirar e expirar o mesmo ar.
Desde cedo que fiquei sozinho e me entreguei aos mais perversos exercícios mentais, os pensamentos de quem se encontra sozinho, de quem está entregue a uma casa e não quer ser encontrado; ou quer?
Sei que temo o momento em que vão tocar à porta, em que vão arrancar palavras da minha boca, em que as minhas cordas vocais vão vibrar deliberadamente porque é socialmente necessário que eu responda a quem a mim se dirige. Podia ficar em silêncio, evitar a comunicação com o mundo exterior. Estive sete horas sem conversar, nem mesmo comigo. Estupidifiquei-me deitado, sentado, adormecido, acordado, no sofá. Decidi que mais não podia ser. Liguei o computador e aquele álbum que me ofereceram ontem, por ocasião de um festejo tardio do meu aniversário, Nouvelle Vague.
Consigo ainda sentir os olhos sonolentos de uma manhã mal resolvida na cama. Consigo senti-los a pesar perante a luz forte do computador. Esteve um dia de sol e eu não o vi, escondi-me atrás dos vidros e das cortinas e das persianas. Dirigi-me a outra divisão da casa e tive que voltar a respirar, o ar pesado respirado e repisado não era o mesmo, era um ar fresco e frio como essa parte da casa que não recebe sol, durante parte alguma do dia.Espreito por entre as frestas da persiana, pelos pequenos buracos o dia que se esvai, desperdiçado, vazio, sem sentido. Volto a sentir o peso nas minhas costas, o peso que preferia não carregar, da culpa da inércia, da preguiça e da eterna luta da vontade contra o peso e os músculos e a carne.
1 Comments:
Muitos de nós se viram neste teu sábado :) na tal luta da vontade contra o peso e os músculos e a carne. Feizmente a vida encarrega-se de nos entrar pelas persianas nos obrigar a resolver o dia, independentemente das manhãs mal dormidas ou não.
:)
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