Wednesday, October 19, 2005

Noites em branco a olhar para o tecto enquanto à minha volta o mundo acontecia e eu não podia tomar parte activa

Quando temos tempo para dormir, para olhar o tecto e contemplar os minutos é quando mais vontade temos de nos sentir activos, de sentir que algo nasce nas nossas mãos. Na ânsia de escrever, dou por mim a cometer erros atrás de erros que surgem no ecrã do computador, assinalados, ora a verde, ora a vermelho.
Parece que, de repente, acordei de um sonho mau. A anos de imobilidade física, intelectual emocional, segue-se um caudal de novas experiências, de pequenas felicidades acumuladas que me dão um sentido para caminhar.


[Este tempo de reflexão, aprisionado a uma cama, com as veias a transportar os soporíferos que me acalmavam os gritos de noite; não gritava por mim, não tinha dores, queria apenas o meu tempo forçado de reflexão. Mas não, os velhos ressonam, os velhos chamam as enfermeiras e os velhos caem da cama. E obviamente, eu faço coro com eles, mandando-os para aqui e para ali, mandando-os calar, para ver se consigo um pouco de sono e descanso para mim. Mas não, nem quando a minha chinela sai em direcção à cabeça de um deles, se calam. Resultado, as enfermeiras ataram-me as mãos, porque o gajo teve que ser suturado no trombil. E eu nem sequer tive direito a um valium para dormir, já que a vodka estava completamente fora de questão.
Mas retomando a história antes de me atarem à cama por ter atirado a chinela: os velhos caem da cama. O Sr. F. (para minha protecção do personagem) cai da cama a meio da noite, acorda o quarto inteiro e eu durmo. Desconfio que me deram uma dose maior, com medo que me levantasse e começasse a brandir o suporte do soro contra todos por me terem acordado. Até que hoje, me deram um chuto no rabo e me puseram a andar, naturalmente o chuto no rabo é figurado, porque se assim tivesse acontecido, teria que lá ficar mais uns dias, e acho que já ninguém tinha muita paciência para mim.]

Ou seja, eu parei e o mundo não. Tenho agora que fazer um esforço extra para o apanhar. No entanto, ainda me encontro parado.

1 Comments:

Blogger cosmonauta said...

Como é que escreveste este post? De pé ou deitado?

11:21 AM  

Post a Comment

<< Home