Friday, April 29, 2005

Sexta-Feira, 07 a.m.

Há muito, muito tempo que me não aventurava nesses antros que se dão pelo nome de discoteca; pior, duas noites seguidas.
Por consequência da queda do tecto do sítio onde trabalho - nem digo onde, nem em quê - esta semana estive de férias. Aproveitei para fazer algo que não fazia há algum tempo; sair sem pensar que me tenho que levantar às oito e onze, sem pensar que tenho que ter imensas coisas preparadas, soluções instantâneas, entre muitas coisas outras que tenho que habitualmente fazer. Não me vesti a rigor, umas calças de ganga rotas, uns ténis perfeitamente normais, uma t-shirt e um abafo, para o caso da madrugada fazer das suas e levantar aquele frio que apanha os mais incautos hedonistas pelo fim-da-noite-início-da-da-manhã.

Começa sempre da mesma forma; a saltitar de bar em bar, ver pessoas, mais pessoas, comer pipocas salgadas para puxar a cerveja. Conversar, rir. De há algumas noites a esta parte, têm surgido novos conhecimentos de todos os lados, pessoas que apenas conhecemos de vista, metem conversa e ficam e pagam copos e vêem conosco e pedem para que os cumprimentemos na manhã seguinte, quando o álcool estiver lentamente a abandonar as veias.
Entrei na discoteca por volta das três e meia; saí por volta das cinco e quarenta. Sei que há um hiato espacial do qual não me recordo muito bem. A música gritava, fez com que os meus ouvidos fizessem bzzz quando saí duas horas e dez mais tarde. As luzes psicadélicas, a música, as pessoas que dançavam apenas nos momentos em que havia luz, o freneticismo dos engates.

Já o sol clareava a manhã e corríamos para uma tasca, comer qualquer coisa. Pediram-me para enrolar dois cigarros. Disse que sim e sorriram-me, o mesmo sorriso que tinham enviado a todos os outros rapazes na discoteca; não acho isso muito lisonjeador. Marcava o meu telemóvel sete horas e treze minutos quando fechei o estore e os olhos.

Desta noite guardo mais umas ideias, entre elas a vontade de não voltar a sair assim tão depressa; não gosto da sensação de estomago cheio, nem da tosse da manhã seguinte. Tive ainda que fazer um pouco de terapia antes de dormir, um pouco de Marlango, a Leonor Watling a cantar só para mim. Não ouvi mais que a primeira canção, mas ficou-me o verso "there's a choreography in traffic jams".

a.m. = antes do movimento

Tuesday, April 26, 2005

Matemática Óbvia

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Sunday, April 24, 2005

Música de fim de semana

De manhã:
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Nouvelle Vague - Nouvelle Vague

Não mais que treze graus, céu cinzento e ameaça de chuva. Para consumir na cama, com torradas com doce de amora e café fresco. Entre beijos e carinhos e terminar a fazer amor. Em Nova Iorque.


De tarde:
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Pink Martini - Hang On Little Tomato

Esplanada de praia com pouca gente. Com mazagrin, óculos de sol e conversa amena, a condizer. Sentir o cheiro do mar, o som do casino a ser limpo, nunca a mais de vinte e sete graus. Em Havana.


De noite:
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Enon - High Society

Num clube muito underground, de copo e cigarro na mão, levemente embriagado. Consumir com luzes roxas, vermelhas e azuis a piscar incessantemente. Sair para rua, apanhar a ar e ver os néons. Trinta graus no interior, seis no exterior. Em Londres.

Saturday, April 23, 2005

Fumble

Pensei que era meio dia quando eram ainda nove; e quando julguei que tinha ultrapassado todos os limites do aceitável, que era uma da tarde, levantei-me. Eram dez e vinte da manhã.
Encontro-me em sonhos muito estranhos ultimamente, algumas cidades desconhecidas nas quais eu ando como se de há muito fossem amigas do peito. No entanto as pessoas tinham a cara esfumada, algo bem mais forte e intenso do que a técnica em que Da Vinci tão bom se tornou. Parecia, de certa forma, que vivia nesse ambiente, uma espécie de poluição a preto e branco, em que as pessoas, eu incluído, nos dissolvíamos no ambiente por este ser tão denso e carregado. Custava-me ver os meus próprios dedos quando esticava os braços para a frente e só percepcionávamos os objectos quase em cima deles. Mas isso não era problemático porque todos andávamos a pé, não havia o perigo de carros ou outros meios de transporte. As pessoas sabiam, intuitivamente, quando alguém se aproximava, e desviavam-se sempre para o lado correcto.

Esta semana fui a um jardim onde fumei um cigarro; um jardim ao pé de um templo romano, coloquialmente chamado o jardim dos namorados. É verdade, havia mesmo muitos casais de namorados que se beijavam sofregamente sob a copa de árvores cujo nome desconheço; casais de quinze, dezasseis, dezassete anos. Olharam para mim com desconforto, porque estava sem par, porque vinha fumar um cigarro e sentir o vento na cara. Suponho que entre eles haja um acordo tácito, de que se podem beijar a cinco metros de distância, mas que não se podem cobiçar uns aos outros, nem sequer olhar. Não conversam uns com os outros, apenas se beijam sofregamente, porque não há mais lugar algum em que o possam fazer.
Unem-se, olham para mim com os olhos coruscando quando irrompo pelo jardim, interrompendo os seus momentos de desabrida paixão, para fumar um cigarro e sentir o vento na cara. Mas não quis saber de os interromper, quis fumar e sentir o vento na cara.

Ontem aprendi uma palavra nova, em inglês: fumble. Há muito que a já conhecia, de uma canção que gosto muito. Gosto do som da palavra, parece que se enrola na língua, é muito sensual. Aprendi ontem à tarde, deitado na cama a ver um filme do Woody Allen. Acariciar.

Sunday, April 17, 2005

Deli Delux

"Abriu um paraíso em terras olisiponenses. Chama-se Deli Delux e é mercearia, charcutaria e cafetaria. A mistura faz todo o sentido, sobretudo quando mesmo ao lado há um cabeleireiro que vende ténis.
A Deli Delux fica à frente da estação de Santa Apolónia. Nas prateleiras estão produtos estupendos como: barras de "dulce con leche", massas Cipriani, pesto, polenta com instruções, San Pellegrino de litro e meio, variadíssimos tipos de "fois gras" e garrafinhas de Underberg, substituto natural do Guronsan ou do Alka-Seltzer. Na cafetaria vendem-se bons "brunches" e a esplanada com o Tejo tão azul à frente promete bonitas manhãs, tardes e até noites (sextas e sábados, abertos até às dez). Fecha às segundas"
Carla Hilário Quevedo in Única, Expresso

Faço das suas palavras minhas também, não porque tenha visitado o espaço mas porque vi a maquete, vi fotografias, vi o "render". Estive também para ir à inauguração.
Este espaço não ésó um espaço interessante para mim, é também algo que me faz lembrar o final de Março em Lisboa. Com recordações tão boas. Com o bar dos Artistas de permeio e o Bairro Alto ali bem perto.
Consumir com restaurante italiano, portas -quase-meias com o Chapitô, onde sitiava a Cozinha de Fusão.

Saturday, April 16, 2005

Hermenêutica do Crescimento

Às vezes nem sabemos bem porque é que estamos tristes. Damos voltas e voltas à cabeça e não chegamos a lugar algum. É preciso vir alguém que nos comece a perguntar coisas, a questionar, a puxar por nós bem de lá do fundo para que nós próprios, com o decorrer da conversa consigamos entender o que conosco se passa.
Não estou triste, nem nada que se pareça: sinto até que estou bastante desperto para tudo, sinto que me começo a desembaraçar de muitas coisas antigas, qe começo a desfazer nós que há muito estavam atados - e que força tinham eles. Fico feliz por me estar a resolver a fazer todas estas coisas. ê

Há no entanto algo que muito me preocupa: quanto mais desfaço nós e me desembaraço deles, mais descubro. Descubro que muitas coisas tenho para resolver, que há muito mais que isto, que estas pequenas mudanças são apenas do início de algo que há-de ser bem grande. O quê? Não sei!, bem talvez já saiba uma coisa ou outra. No entanto é assustadora a dimensão a que deixei isto chegar, o efeito bola de neve acompanha-me desde os doze anos; e se algumas vezes dei sete passos para a frente outras tantas dei doze trás.

O que percebo é que à vezes crescer é muito mais complexo que acumular anos. Sempre me dei mal com a mudança, nunca fui muito adepto desta prática, adiando-a sempre que possível. E quando percebemos que a não queremos mais adiar. quando com ela nos sentimos bem; quando com isto percebemos que já tão diferentes somos. Há alguns dias escrevi sobre há quatro anos, ontem conversei sobre há um ano atrás; foi tão complicado reviver um período tão conturbado, tão nebulado e inebriado. Não foi um bom período, fui um período de adiamento, agora vejo-o. Na altura não. felizmente já foi há um ano e daqui a quatro terá sido há cinco. è bom olhar para trás e perceber que bom não foi.
É bom olhar para trás e sentirmo-nos melhores.

É bom poder ter conversas difíceis e depois sentirmo-nos mais leves.
É bom que os lambam as cicatrizes; mas melhor é lamber as de quem gostamos.

Wednesday, April 13, 2005

Perversa é a linha do pensamento

Dei por mim numa fila, apenas há poucas horas atrás. Depois dessa fui para outra e por fim, uma última fila. Parece-me natural pensar que oiço a conversa dos outros, não por natural curiosidade à vida alheia, mas sim porque ando sempre sozinho e não tinha ninguém com quem partilhar a minha solidão vespertina.
Pouco tempo tive com atenção à conversa dos três rapazes que à minha frente se encontravam. Preversa é a linha do pensamento; reparei na marca das calças que em dos rapazes usava. Nada de mais, simplesmente era um marca que eu usei, que me levou de volta a um período da minha, período que teve lugar há pouco menos de quatro anos. Passei a tarde de volta de recordações, de atitudes, de formas de pensar, de música que ouvia. Daquilo que considerava prioritário e agora é obsoleto, da forma como eu mudei nestes anos.

Numa das filas passaram-me à frente com a justificação que tinham chegado à loja primeiro que eu, mas que não tinham entrado porque estavam a ver a montra. Quase nem dei conta de isto ter acontecido - e se tivesse dado mudaria alguma coisa? - estava mesmo absorvido naquilo que foi a minha vida até agora.
Desde o tempo em que andava de baloiço no quintal de trás da minha avó, quando fui para escola primária, o ciclo, o primeiro beijo, o secundário, a primeira vez que tive sexo.

Não consigo perceber até que ponto é que estou feliz com o que a minha vida foi, simplesmente estou feliz com o que ela é. Mas em cada momento que passei, sempre pensei que estava a viver as coisas de acordo com aquilo que era realmente importante, com as prioridades muito bem definidas. Realizo agora que o não fazia. Fál-lo-ei agora? Acho que sim, mas poderei não achar o mesmo daqui a quatro anos, assim é agora, passados quatro anos. Há quatro anos atrás tinha dezanove anos.
Em meses cresci anos, não sou o primeiro a dizer-me isto. Talvez daqui a quatro anos ache que há quatro anos atrás não tomei as decisões erradas e esteja mais feliz do que agora estou, talvez não seja necessário esperar tanto tempo para perceber que as minhas opções de agora são as correctas.

Perversa é a linha do pensamento, tão perversa.
Fui puxado à realidade com um «O que deseja?» ao qual respondi «Modelo 54 por favor.»

Sunday, April 10, 2005

All Star

Noites de hotel e ténis novos:

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Com movimento de fuga à mistura.

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Um exibicionismo exacerbado
"Os ténis são mesmo giros!"


Resta esperar pelos ténis pretos, simples mas com uns pequenos caracteres que dizem
"I love Tokyo"

Saturday, April 09, 2005

O meu casaco de pelo de carneiro em Amesterdão

Tantas peripécias passadas em Bremen, despedidas de amigos recentes. Enfim, o desgaste emocional é algo tão bom como doloroso; engraçado como nós somos, procuramos a dor nas relações, quer estas sejam de amizade ou de outra índole. Enfim, mas só dói porque gostamos e sentimos falta.

Isto sou eu em Amesterdão com o meu casaco de pele de carneiro e um ar grunge. Acho que tenho o ar de quem está a ver a cidade e à noite vai tocar no Amsterdamer Dome,o que, a bem dizer, não era nada mau.
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A deambulação que naquele momento levava a cabo levar-me-ia ao Museu Van Gogh. Não só lá encontrei os seus quadros, como uma exposição de um pintor austríaco, Egon Schiele, que levou uma vida muito perturbada. Pedófilo, amante de prostitutas, quando se resolve a casar tem que ir combater na primeira guerra mundial; quando volta a mulher adoece e morre. Três dias depois morre ele. Aos vinte e oito anos.
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Esta cidade pula de vida, as pessoas são todas muito fashion, vestem-se bem e não são totalmente desprovidas de beleza; é tão bom andar na rua, olhar para as pessoas. Além de que são muito, muito saudáveis, ao contrário de nós que nos enchemos de enchidos e gordura e essas coisas todas. Ao menos comemos muita sopa, isso é bom.
Bicis:
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E encontra-se de tudo na rua: já na zona do Red Light District encontram-se todos os tipos de bares e casas de amásias; no entanto, em ocasião alguma, nos sentimos inseguros. Quer dizer, em termos de frequentadores faz lembrar o Bairro Alto - saudosa Lisboa - mas sem a violância que npode explodir a qualquer momento. Anda-se em segurança.
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E bares e bares e bares e bares.
Rhythm' n' Blues
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E depois, casualmente, encontra-se o carro dos nossos sonhos, ali à mão de semear, com matrícula portuguesa.
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Não fui sozinho. Compras e mais compras, muita comida. E sempre a rir.
Agora, em Portugal, apertam as saudades. Tantas, Tantas
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Fotos por S e M.